Eu sabia que ele voltaria a qualquer momento.
Eu estava parada segurando um café na rua central, e quando
dou-me por despercebida, ele estava me fitando de longe. Um óculos retro, uma
blusa xadrez e uma bermuda jeans. O cabelo totalmente bagunçado e o sorriso
extravagante. O meu coração estava partido das relações afetivas passadas, e a
única coisa que eu poderia fazer era dar tchau, e sair andando. Sentia que não
estava pronta para novas proximidades.
Ele veio caminhando pro meu lado, e disse quase que sussurrando: “Eu li
aquele seu texto no jornal, e me apaixonei pela escrita”. Quando essas palavras
entraram de prontidão na minha alma, eu percebi que mesmo depois de tempos,
alguém estava me olhando, observando, mesmo que distante. Eu sorri, e disse: “Por
quê não me procurou antes? Já faz alguns meses que publiquei.” Ele mais que
depressa: “Você namorava, oras.”
Ele ficou envergonhado e começou a ficar olhando para os lados, como se
estivesse procurando alguma coisa. Fomos
caminhando pela cidade, que estava em comemoração pelo natal. Eu disse que não
gostava muito do Natal, e ele disse que compreendia. Ôhh céus ! A cada vez que
ele falava que me compreendia, me dava uma vontade imensa de abraça-lo e
perguntar por onde ele andou esse tempo todo. Ele era mais velho, uns 24 ou 25
anos, cursava sociologia, e sabia falar de todos os assuntos que me
interessavam, por vezes até fiquei sem graça pela grandiosidade do seu
conhecimento.
Ele era belo, e eu sabia que eu precisava dele na minha
vida, mesmo que conhecendo-o em duas ou três horas de caminhada juntos. Ele tinha uma mania de mexer nos seus cabelos
castanhos e sorrir de lado, mania essa que me deixava toda angustiada e sem
saber o que fazer. Seus cabelos eram grandes, e faltavam cores nas suas peles.
Ele era branco como a neve, e quando falava de amor, sua bochecha fica rosa, e
era nesse momento que eu sentia uma vontade imensa de beija-lo. Ele até brincou que eu sabia bem discursar
sobre o amor, e eu respondi com uma voz bem aguda: “É que eu vivi o amor nesses
últimos meses.” Ele olhou com aquele
olhar de mistério e me perguntou: “O que é viver o amor nesses últimos meses?”
Eu não sabia bem o que responder, e pouco compreendi o que quis dizer nessa
frase, mas tentei argumentar dizendo que havia amado uma pessoa nesses últimos meses,
e que fora um fracasso, a não ser pelo
que aprendi através da convivência.
Entramos num barzinho hippie e ele me perguntou se eu
gostaria de beber alguma coisa. Eu nunca fui muito fã de bebidas alcoólicas mas
acabei aceitando tomar um vinho. Já era 23:00 e fazia tempos que caminhávamos pela
cidade. Conversamos, e por vezes
esbarramos as nossas mãos. Por fim, ele segurou na minha mão, olhou nos meus
olhos e disse: “Adoraria te beijar”.
Na mesma hora o meu lado Angélica racional de ser, me disse
que era loucura beija-lo no primeiro encontro, e ao mesmo tempo o meu corpo
impulsionava para perto dele. O beijei, e comecei a imaginar como se estivéssemos
em uma bela montanha. Eu, ele e o vento que soprava em nossas cabelos a mais
suave das emoções: A paixão.
Já era 24:00 e precisava partir. Nunca gostei de marcar compromisso, e de
determinar as coisas. Disse que a
naturalidade nos aproximaria novamente.
- Boas energias, moço que me fez sentir borboletas no
estômago .
Ele beijou minha testa, sorriu e disse:
-Boas energias, moça dos lábios vermelhos.