Se quebrar o silencio significa desistir do amor, assim o
faço. Minha alma não compreende a necessidade do distanciamento, e por fim, a
necessidade de mesmo transbordando de amor, limitar o desejo físico. No íntimo, talvez pelas condições que outrora
mantinham a minha espera intacta, o desejo foi se esvaindo com o tempo e com
ausência. Não falo de uma ausência carnal, ou até mesmo de ausência de afago,
digo da ausência vivencial, do estar sempre caminhando lado a lado,
compreendendo, respeitando e aceitando as mais diversas condições particulares
de cada um. Talvez a vida ainda não
tenha dito que relacionamentos exigem o ato de doar a alma/corpo/coração, por
essa razão as pessoas preferem a
individualidade. Contar e compartilhar os defeitos e as entranhas seria ferir
as intimidades do próprio ego. E quem é que está preparado para fazer com que o
ego, se desmanche através do aceitamento daquilo que se é?! Ontem, por ventura,
resolvi limpar o meu jardim interno. Resolvi colocar a mesa, cara a cara, os
meus piores defeitos: o individualismo, o pessimismo, e o egoísmo. Resolvi assumir e sentir profundamente a causa e efeito
que os mesmos me causam. Depois, resolvi
passar um pano, bem leve, naquelas poeiras que foram juntadas pela falta de
mobilidade. Descobri que me faltavam carinhos, doçuras, e poesias. Fechei os
olhos e disse mentalmente: “Amanhã, tudo estará renovado. Não mais precisarei do
que me é externo como preenchimento” . Logo pude conhecer a verdadeira calma do
ser que vive espiritualmente. Resolvi quebrar o nosso silencio, antes que a
vida faça isso. Resolvi que era chegada a hora de abandonar a situação
presente; do pensar demais e do esperar demais. Meu alvo se tornou as realizações mais próximas dos meus olhares, o
que me é certeiro. No meu jardim interno havia caixas e nelas pude encontrar
magoas e rancores. Fechei os olhos e comecei a meditar, e
concentrar na minha respiração, ora rápida, ora devagar, pouco a pouco essas dores foram sumindo. Conheci a
felicidade contemplativa. Uma paz, leveza, ou qualquer que seja o nome. Se esse
silencio gritante significa abandonar o cargo de espera, assim o faço. Não
posso e não devo continuar sentada no meu mais profundo estado espiritual,
esperando que as coisas se transformem. As coisas só vão se transformar quando eu
mesma querer conhecer a verdadeira causa do meu próprio mundo, e assim,
eleva-lo.
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