Estava frio, muito frio.
Estávamos em uma bela casa de madeira, antiga, velha, mas
cheia de vida e lembranças. Era rústica, com moveis antigos e decorações da
década de 50. Havia roupas de época, e
uns chapéus-coco, que era o nosso fetiche enquanto fazíamos sexo. Lembro que eu subia em cima da cama, o
colocava, enquanto tocava aquela música melancólica do Neil Young, e dançava
com os cabelos sobre os seios, e com você debaixo de mim, sorrindo e observando
as mais íntimas partes do meu corpo. Ao lado da cama havia cigarros, e as
nossas roupas umas sobre as outras.
O teu perfume
cheirava a casa inteira, aquele cheiro, como é mesmo que eu dizia? - Cheiro de sexo com amor. Enquanto me
distraia com o chapéu-coco, e observava a neve caindo lá fora, você me sorriu
alto e me perguntou se eu gostaria de tomar um café estilo puritana. Pediu-me
que botasse aquele vestido de ceda, de bolinhas, e enquanto eu me trocava,
pediu que continuasse com o chapéu, só pra não perder o clima... Assim o fiz.
Organizamos aquela mesa de madeira, (totalmente velha e bem
escura), com uma toalha preta e com velas vermelhas. Na tentativa de manter o clima de paixão e
desejo ardente.
Ele chegou por detrás de mim, me pegou pela cintura e sussurrou
com palavras doces ao meu ouvido: - Eu
te quero pra mim/em mim. Eu mal sabia o que responder, logo que tínhamos
encontros um tanto quanto casuais e sem muito compromisso. Eu não queria me
envolver emocionalmente e muito menos ele.
Isso iria contra o nosso trato de amantes-amigos.
Embora sempre tenha sido inegável que entre nós havia uma
conexão saudável e uma vontade imensa de prosperar aquele relacionamento, eu
não poderia ir contra o combinado do primeiro encontro. Ele um rapaz puritano nas horas vagas, e eu
também. Ambos com medo de relações afetivas e com medo do amor. Ele com medo de se machucar e eu com o desejo
imenso de ser livre. Considerava-me um
tanto quanto infiel quando o assunto se tratava ter um compromisso.
Gostava de quando ele aparecia no meu apartamento, de
repente, cada dia com um objeto sexual diferente, e com a mania louca de
aparecer sem avisar e com o combinado de não nos deixarmos permitir mandar algum
e-mail ou dar algum telefonema por ausência ou carência. Confesso que teve uma vez que acordei na
madrugada, com uma vontade louca de ouvir palavras e juras de amor, até pensei
em algum ex-namorado, mas sei lá, seria estranho demais, e resolvi dormir. Inconscientemente eu sabia que ele seria o
ideal.
Nos conhecemos
por termos o mesmo ciclo de amigos, e
confesso que quando o vi pela primeira vez, senti uma vontade louca de chegar
perto dele e pedir seu telefone, dizer que topava fazer sexo naquele dia mesmo.
Tão estiloso e tão charmoso com aquele cabelo preto e olhos
verdes. Fora que era metido a filósofo e
a poeta. Tenho um puta fetiche com homens assim.
Antes que eu perca a ideia central desse texto maluco:
Quando ele me disse que queria que eu fosse dele, eu mal sabia o que fazer e
o que responder. Não sou de frases prontas e tudo surge naturalmente
comigo. Não sabia se dizia logo que
também queria, ou se fazia de durona e dizia que sei lá, vamos fazer sexo e ir
cada um pra sua casa. A única coisa que
surgiu foi: - Gostaria de tocar uma
música pra você.
Fomos até o piano, e comecei a tocar uma música do Allan
Jackson. Ele sentou do meu lado e vi que
uma lagrima começou a escorrer de seu rosto.
Eu pensei que era impossível, justo ele, tão durão e tão metido a
machão. Continuei tocando, não por dar continuidade a música, mas porque não sabia
o que fazer ou falar. Toquei por cinco
minutos, e quando a música finalizou, lagrimas escorreram dos meus olhos. Não poderia ser por amor, eu pensei. Não é possível que o amor estava em nós esse
tempo todo e eu não percebi.
Era quase que obvio:
Nos amávamos da forma mais natural possível. Sem nunca termos precisado
dizer eu te amo, e nunca termos tido uma
exigência um com o outro.
Levantei, enxuguei as lagrimas do seu rosto, olhei em seus
olhos e disse:
- Aceita sair comigo?
Ele sorriu, me abraçou e mais uma vez sussurrou:
- Aceito. Só se depois fizermos o nosso primeiro amor.
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